"Musings" as an experience (NSFW)

A few days ago i was talking with a friend and the "Musings" series came up. She told me she loves my approach but she had a remark to make: "when i look at the photos, i don't see myself in them".

She was referring to the fact that all the women captured in this series, look like models. I explained that this was quite far from truth.

When i started this series, back in 2014, the first person i invited was in fact a model. But after that, i started inviting friends (not models) and during these years, from all the women who have been participating in this series, only 3 were actually models.

She was kinda surprised by this number but she still argued that even so, she couldn't see herself represented in those photos. According to her perspective, all the women in these photos looked perfect, with amazingly shaped bodies. She wasn't spotting signs of imperfection. She wasn't seeing very common details like cellulitis or sloppy bellies.

I told her that I don't look for perfect bodies, but what i've noticed over the years, is that women who are happier and more comfortable with their bodies, are usually more open to the idea of participating in this series.

And this doesn't mean their bodies are perfect. In most cases, it means they are willing to make these photos, because they trust me to make photos they'll be proud of. And then, it's up to me to live up to that expectation and look for the best angles.

The bottom line here is:

  1. it is not easy as people might think, to find women who feel comfortable making these intimate photos;

  2. it is hard to find women who are ok with showing less flattering parts of their bodies (less flattering according to society's standards).

If you read this far, now you know too 🙂

During that conversation, my friend asked me what was i looking for in these women and in these photos. I told her I want to show beauty, where I see it. I want to show there's nothing wrong with the female body (and yes, i believe most people still have issues with their bodies, but that's a whole other subject...)

In the same way I like to show the beauty of a face with portraits, I know I can also do it other parts of the body.

And are scars ugly or even cellulitis? Not necessarily. It all depends on how you look at it. And most importantly, how you feel about it. Because that will certainly show in the photos.

So, yes, if i find women who are happy with sharing whatever it is their bodies look like, i will be happy to lend them my vision.

But more important than being fit or flabby, it's the will to have this experience. It's the will to challenge yourself. It's the will to see yourself from the eyes of a "stranger".

And to round up this post, there's still one more thing to be said:

People will always have some type of thoughts/critics about the photos I make (and if they are constructive, i welcome them), just as people will (unfortunately) keep making comments about what you (women) do.

Even if they don't know you or me, people will always produce some kind of thought. And eventually, they will verbalise it. And it won't always be nice.

If you mention to a friend that you posed naked in front of stranger or even a friend who's not your partner, there's a pretty good chance they will judge you in some way. Unfortunately, that still happens. And that's just one more reason why it's important to keep making this type of work.

I made peace with that a while ago. Because, if was really worried about other people's judgment, I wouldn't have started this series and I wouldn't have started numerous other projects.

And if you are a woman reading this, you might even argue "that's easy for you to say, you're a man". No, being a man doesn't make it any easier for me. Quite the contrary. I'm a man trying to work in a female environment, therefore, I'm the "stranger", I'm the "elephant in the room". Being a man, means I'm also judged by other people, specially women.

So, from all the lessons I got from the "Musings" series, I would say this: people will keep judging me and you. Knowing that, it's up to us to decide if we'll let that stop us from having the experiences we consider important to us.

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Há uns dias estava a conversar com uma amiga e a série “Musings” veio à baila. Ela disse que adorava a minha abordagem, mas que tinha uma observação a fazer: “quando olho para essas fotografias, não me revejo nelas.”

Ela referia-se ao facto de que as mulheres fotografadas para esta série, pareciam modelos. Expliquei-lhe que não era bem assim.

Quando comecei esta série, em 2014, a primeira pessoa que convidei foi efectivamente uma modelo. Depois disso, comecei a convidar amigas (não modelos) e durante esses anos, das pessoas que participaram nesta série, apenas 3 eram efectivamente modelos.

Ela ficou um pouco surpreendida com este número e disse que, ainda assim, não achava que as minhas fotografias representassem mulheres como ela (com o tipo de corpo dela). Porque, segundo ela, todas as mulheres nas fotografias desta série, parecem perfeitas. Ela não via quaisquer marcas ou imperfeições. Ela não estava a ver pormenores típicos do corpo da maioria das mulheres, como celulite ou aqueles “pneuzinhos”.

Expliquei-lhe que não procuro corpos perfeitos, mas, o que me tenho apercebido ao longo dos anos é que as mulheres que alinham nesta série, são normalmente mulheres que estão confortáveis com os seus corpos.

E isto não quer dizer que os seus corpos sejam perfeitos. Na maioria dos casos, o que aconteceu foi que quiseram fazer estas fotografias, porque confiaram em mim para lhes entregar algo de que se orgulhassem. E claro, depois coube-me a mim cumprir essa expectativa ao procurar os melhores ângulos.

Resumindo, as conclusões a que cheguei foram:

  1. não é fácil como as pessoas possam pensar, encontrar mulheres confortáveis para fotografar neste registo mais íntimo;

  2. é difícil encontrar mulheres que se sintam confortáveis em mostrar partes do seu corpo menos lisonjeadoras (lisonjeadora de acordo com os padrões da sociedade).

Se leste até aqui, agora já sabes também 🙂

Durante esta conversa, a minha amiga perguntou-me também o que é que eu procurava nestas mulheres e nestas fotografias. Às vezes sinto que me repito, mas desde que a mensagem passe, fá-lo-ei as vezes que forem precisas: quando vejo algo bonito, procuro registá-lo. Esta é a resposta mais curta. Mas quero mostrar também que não há nada de errado no corpo feminino (sim, tenho a certeza que muitas pessoas ainda têm problemas com o seu próprio corpo ou com a percepção que têm dele, mas isso dava tema para todo um outro post…)

E tal como gosto de registar caras peculiares e que me parecem bonitas, sei que também o consigo fazer com outras partes do corpo.

E as cicatrizes ou a celulite são pormenores feios? Não necessariamente. Tudo depende de como olhas para elas. E mais importante, como é que te sentes em relação a esses pormenores. Porque a forma como te sentes em relação a isso, garanto-te, vai-se notar nas fotografias.

Por isso, sim, se encontrar mulheres que esteja confortáveis com a ideia de mostrar quaisquer que sejam estes ou outros pormenores do seu corpo., terei todo o gosto em dar-lhes a minha visão do mesmo.

Mas mais importante do que terem um corpo “fit” ou mais flácido, é terem a vontade de passar por esta experiência de ficarem com um registo fotográfico feito por um “estranho”.

E para fechar este post, há ainda mais uma coisa a dizer:

As pessoas vão ter sempre algum tipo de pensamento/crítica sobre as fotografias que eu faço (e se forem construtivas, venham elas!), tal como as pessoas continuarão a fazer comentários sobre aquilo que vocês (mulheres) fazem.

Mesmo que não me conheçam a mim ou a ti, as pessoas vão produzir sempre algum tipo de pensamento nas suas cabeças. E eventualmente, algumas irão verbalizá-lo. E poderá nem sempre ser o mais simpático.

Se disseres a uma amiga que posaste nua em frente a um estranho ou até mesmo um amigo, mas que por acaso nem sequer é o teu namorado/parceiro, há uma elevada probabilidade de seres julgada de alguma forma. Infelizmente, isso ainda acontece. E essa é apenas mais uma razão pela qual acho importante continuar com esta série.

Já fiz as minhas pazes com isso há algum tempo. Porque, se estivesse realmente preocupado com o julgamento das outras pessoas, não teria começado nem esta série, nem outros projectos que já desenvolvi.

E se és uma mulher que está a ler isto, até poderás dizer-me “ah, é fácil para ti dizeres isso, porque és homem.”. Não, de todo. Ser homem não torna nada de todo a coisa mais fácil. Antes pelo contrário. Sou um homem a tentar trabalhar num ambiente feminino e portanto, eu sou o “estranho”, o “elefante na sala”. Ser homem, significa que também sou julgado por outras pessoas, especialmente mulheres.

Portanto, de todas lições que já aprendi com a série “Musings”, diria isto: as pessoas vão continuar a julgar-me a mim e a ti. Sabendo isso, cabe-nos a nós decidir se vamos permitir que isso nos impeça de ter as experiências que achamos importantes para nós.

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